terça-feira, 5 de julho de 2011

"Eu desabei no sofá que cheirava a gatos, joguei a cabeça para trás e suspirei. Ele sentou-se ao meu lado e me fitou por um breve momento. Senti sua ansiedade e olhei fundo nos seus olhos, e aqueles olhos brilhavam com tanta intensidade que me prendiam naquele universo que era somente nós dois.
- Sei que se você continuar mais um segundo sem me fazer essa pergunta, seu coração vai sair saltitando descontrolado pela rua. - Eu fiz uma careta, quando terminei de fitar aquelas rugas que se uniam em sua testa corada.
- Tá legal. Mais não fica com raiva ta bem? - Ele resmungou.
- Você tem dois segundos.
- Você ... você ... você gosta dele?
- Sim.
Ele soltou um longo suspiro e resmungou.
- É, isso era óbvio. Mais você gosta mais dele ou mais de mim?
- Não é questão de gosto. É de diferença. Você é meu melhor amigo e ele é o ... bem, é o cara que eu gosto.
Suas sobrancelhas se uniram numa dúvida enorme.
- Ele é seu namorado?
- Ainda ... não.
- Que bom.
Eu explodi gritando com ele.
- Como você acha que eu me sinto, envolvida com o cara mais famoso do planeta, quando o meu melhor amigo e jornalista tem a missão de perseguir a vida pessoal dele? Sabendo que está nas suas mãos o meu destino? Virar celebridade ou não! E então, o que você acha, que eu realmente devo te contar alguma coisa se daqui há menos de 24 horas todas as revistas estarão com a minha foto e a dele estampadas na capa? "A vigésima namorada". Como acha que eu me sinto? Eu não quis isso! Aliás, eu não quero. Não quero a fama, o dinheiro, eu só quero ele, comigo, como pessoas normais que saem pra trabalhar no hospital, no escritório e voltam cansadas, tomam um banho, pedem uma pizza e dormem juntos, sem se preocupar com mais nada!
- Então acaba logo com isso. Afaste-se dele e o mundo não precisa saber sobre vocês dois.
- Ah, cala essa boca! E quer saber? Pode passar a notícia pra redação, pra quem você quiser. É ele quem eu quero, ele sendo bonito ou feio, pobre ou rico, famoso ou desconhecido. E sua chantagem não pode arrancar isso de mim.
Eu me levantei, fui até a porta e a abri exageradamente.
- Saia, você não é mais bem vindo aqui.
Eu tomara aquela decisão porque meu melhor amigo estava querendo tirar a coisa mais importante do mundo para mim. E se eu tivesse de magoá-lo também para impedi-lo, eu o faria. Porque o amava. E quem ama magoa. Um dia ele entenderia, que por mais que você ame alguém, por mais que esse alguém signifique algo para você, se um dia ele chegar a magoá-lo o amor não deixa de existir, mais se recolhe num abrigo, a espera do perdão.
Ele levantou-se e caminhou furioso até a porta, me olhou por alguns instantes e seus olhos ainda brilhavam. Ele abaixou a cabeça e saiu. Eu fechei a porta e me joguei ao chão, abraçando meus joelhos, sentindo a dor escorrer por meus olhos. Eu esperaria a mágoa passar, e então se ele pudesse e quisesse vir me pedir perdão eu o perdoaria, porque também o amava, como o melhor irmão que Deus pode me dar."

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